Adriana Vignoli, Suspensões e deslocamentos.
Ao visitar a exposição na Loja Hill House uma pergunta
logo me veio a mente: Porque uma exposição de arte dentro de uma loja
especializada em móveis e decoração de ambientes? Será que a arte contemporanea
busca agora seu espaço decorativo? A arte contemporanea tem espaço na decoração
de nossas casas? Os artistas, jovens artistas de Brasilia estarão buscando uma
clientela que compre suas obras? Esta clientela saberá apreciar estas obras ou
será mais uma repetição historica? Pois a história nos mostra que os artistas
buscaram por longo periodo um espaço dentro da sala elegante de um poderoso e
entre eles necessitava viver, para sobreviver e recebia encomendas e era “obrigado” de certa forma
a trabalhar sua arte ao gosto do fregues... Arte contemporanea... tão filosofada,
tão... decorativa?
Bem questionamentos a parte, melhor mesmo me centrar
na tarefa de escolher uma obra, versar, criticar, eplanar sobre ela. Assim
escolho a obra de Adriana P. Vignoli – Suspensões e Deslocamentos, objetos 2011
– que me chamou a atenção talvez por ser mais improvavel peça de decoração para
uma sala de alguma socialite que esteve presente no evento de abertura da
exposição como mostra diversas revistas especializadas neste público em sua s
reportagens.
A artista faz uma montagem de um relógio antigo e uma
parte de um filtro velho suspensos sobre
um suporte de madeira de forma irregular e que de primeira, me pareceu propenso
a cair , a deslocar-se a qualquer momento. Ao observar a obra a primeira
ligação que fiz foi com a obra de Duchamp, levar para um ambiente tão refinado,
objetos velhos e sem valor estetico, para mim pareceu bem “DADA”, no entanto ao
pesquisar sobre o trabalho da artista me surpreendi com sua proposta e a
filsofia, a profunda filosofia de sua poetica. Não que Duchamp não tenha sido
profundo, mas o mote deste artista é diferente.
Penso que ela explora a questao social de nossa cidade,
mostra a diferença que existe nos espaços de Brasilia e o uso de espaços e
objetos por cada camada social. Ver objetos retirados do ambiente do lixão da
Estrutural transformados em obra de arte
dentro de uma galeria ou no ambiente como da loja aonde ele se encontra nos faz
meditar como eles chegaram até o lixão, quem o usou, quem investiu na sua
compra? Se recolhido por um dos catadores ou moradores da Estrutural que fim
teriam? Que uso teria um pedaço de filtro? Serviria como vaso de planta? Se o
relogio não funciona mais estaria na parede?
Assim observando esta citação da artista:“Ao buscar essas práticas do cotidiano em meu campo de
experimentação, percebo microespacialidades compostas por diferentes objetos,
restos, rastros, fendas, poeiras que deixam registros e alteram a superfície
urbana projetada. Elas seriam como matérias que tornam a forma estática numa
outra, dinâmica e multifacetada. São como fricções e sobreposições ocorridas na
superfície urbana. Semelhantemente ao que faz Matta-Clark em muitas de suas
obras, passo uma lente sobre a forma urbana e detecto outras, que também
habitam a superfície. A partir daí, retiro do Lixão os objetos que serão parte
de minhas intervenções e realizo uma catalogação dos mesmos.”Adriana p.
Vignole, Vejo a capacidade poética da mesma, seu atrevimento em discutir questões
tão profundas e considero sua pesquisa
de grande importancia para nosso desenvolvimento artístico.
clique aqui para ver mais trabalhos de Adriana Vignoli.
Lindaura Pereira de Sousa (1963) Artista Plástica, Estudante do 5º semestre
de Artes Visuais – Faculdade de Artes
Dulcina de Moraes.
Lindaura, gostei muito do texto. As sua reflexões perpassam pelas questões primeiras que iniciaram a obra e vc as capturou muito bem: as diferenças formais e sociais existentes na cidade.
ResponderExcluirUm abraço,
Adriana.