quarta-feira, 9 de maio de 2012

Adriana Vignoli: Suspensões e deslocamentos por Lindaura Sousa

Adriana Vignoli, Suspensões e deslocamentos.

Ao visitar a exposição na Loja Hill House uma pergunta logo me veio a mente: Porque uma exposição de arte dentro de uma loja especializada em móveis e decoração de ambientes? Será que a arte contemporanea busca agora seu espaço decorativo? A arte contemporanea tem espaço na decoração de nossas casas? Os artistas, jovens artistas de Brasilia estarão buscando uma clientela que compre suas obras? Esta clientela saberá apreciar estas obras ou será mais uma repetição historica? Pois a história nos mostra que os artistas buscaram por longo periodo um espaço dentro da sala elegante de um poderoso e entre eles necessitava viver, para sobreviver e recebia  encomendas e era “obrigado” de certa forma a trabalhar sua arte ao gosto do fregues... Arte contemporanea... tão filosofada, tão... decorativa?
Bem questionamentos a parte, melhor mesmo me centrar na tarefa de escolher uma obra, versar, criticar, eplanar sobre ela. Assim escolho a obra de Adriana P. Vignoli – Suspensões e Deslocamentos, objetos 2011 – que me chamou a atenção talvez por ser mais improvavel peça de decoração para uma sala de alguma socialite que esteve presente no evento de abertura da exposição como mostra diversas revistas especializadas neste público em sua s reportagens.
A artista faz uma montagem de um relógio antigo e uma parte de um filtro velho suspensos  sobre um suporte de madeira de forma irregular e que de primeira, me pareceu propenso a cair , a deslocar-se a qualquer momento. Ao observar a obra a primeira ligação que fiz foi com a obra de Duchamp, levar para um ambiente tão refinado, objetos velhos e sem valor estetico, para mim pareceu bem “DADA”, no entanto ao pesquisar sobre o trabalho da artista me surpreendi com sua proposta e a filsofia, a profunda filosofia de sua poetica. Não que Duchamp não tenha sido profundo, mas o mote deste artista é diferente.
Penso que ela explora a questao social de nossa cidade, mostra a diferença que existe nos espaços de Brasilia e o uso de espaços e objetos por cada camada social. Ver objetos retirados do ambiente do lixão da Estrutural  transformados em obra de arte dentro de uma galeria ou no ambiente como da loja aonde ele se encontra nos faz meditar como eles chegaram até o lixão, quem o usou, quem investiu na sua compra? Se recolhido por um dos catadores ou moradores da Estrutural que fim teriam? Que uso teria um pedaço de filtro? Serviria como vaso de planta? Se o relogio não funciona mais estaria na parede?
Assim observando esta citação da artista:Ao  buscar essas  práticas do cotidiano em meu campo de experimentação, percebo microespacialidades compostas por diferentes objetos, restos, rastros, fendas, poeiras que deixam registros e alteram a superfície urbana projetada. Elas seriam como matérias que tornam a forma estática numa outra, dinâmica e multifacetada. São como fricções e sobreposições ocorridas na superfície urbana. Semelhantemente ao que faz Matta-Clark em muitas de suas obras, passo uma lente sobre a forma urbana e detecto outras, que também habitam a superfície. A partir daí, retiro do Lixão os objetos que serão parte de minhas intervenções e realizo uma catalogação dos mesmos.”Adriana p. Vignole, Vejo a capacidade poética da mesma, seu atrevimento em discutir questões tão  profundas e considero sua pesquisa de grande importancia para nosso desenvolvimento artístico.
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Lindaura Pereira de Sousa (1963) Artista Plástica, Estudante do 5º semestre de Artes  Visuais – Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.

Um comentário:

  1. Lindaura, gostei muito do texto. As sua reflexões perpassam pelas questões primeiras que iniciaram a obra e vc as capturou muito bem: as diferenças formais e sociais existentes na cidade.
    Um abraço,
    Adriana.

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