sexta-feira, 11 de maio de 2012

Alex Flemming: India x Paquistão por Josefa Marques

Figura 1 – Alex Flemming, Índia x Paquistão.
Fotomontagem/ Impressão digital. 1,55 x 2,03. 2001.

          Esta obra apresenta uma fração de um corpo, de costas, do torso superior até as coxas. Sobre onde se localiza a bunda foi colocado o mapa que, segundo o artista, havia sido publicado na Revista Veja, no qual se vê o potencial de armamento nuclear dos dois países. Após a impressão feita sobre plástico, o artista interviu sobre a fotografia pintando “átomos”. Em outra foto da mesma série e também sobre a India e o Paquistão ao invés de colocar os átomos, escreveu textos.
            O corpo tem tonalidade azulada. O mapa sobreposto tem fundo em vermelho, indicando as quantidades de bombas, foguetes, etc. O fundo do quadro é também em vermelho. A representação dos átomos está em branco e verde.
            A parte esquerda do quadro e a inferior esquerda estão mais escuras que a parte direita, especialmente o lado direito superior.
            Alex Flemming é brasileiro, nascido em São Paulo, em 1954. Estudou cinema na FAAP – Fundação Armando Alvarez Penteado e atualmente mora em Berlim (Alemanha) e vem cerca de três vezes por ano ao Brasil.
            A obra escolhida “Índia x Paquistão” faz parte de uma série produzida pelo artista entre 2001/2002, chamada de “Body Builders”, na qual fotografou corpos jovens e esbeltos para em seguida desenhar, sobre essas imagens, mapas de áreas de conflitos e de guerras.
A fotografia, como meio ou propiciando acesso a outras mídias, é usada por Flemming desde o início de sua carreira. O uso de caracteres gráficos sobre fotografias de pessoas também está presente em um dos seus mais destacados trabalhos: os painéis da Estação Sumaré do Metrô de São Paulo. Compostos por fotos, como se fossem de documentos (3 x 4) de pessoas comuns, a cada uma foi atribuído um poema, escrito em letras meio borradas, com trechos invertidos ou ausentes, o que não impossibilita a sua compreensão.
           Ana Mae Barbosa (2001) foi curadora da exposição “Alex Flemming: Corpo Coletivo realizada no CCBB – SP e sobre a série Body Builders do artista, que foi o foco principal da exposição, disse:

A série se ampliou com mais 17 obras que foram criadas e produzidas especialmente para essa exposição do CCBB-SP e que apontam para contradições básicas do mundo contemporâneo. Uma delas é a quase ausência de limites para a dominação do corpo pelos sujeitos individuais que os modelam, os recortam, potencializam sua energia e os constróem, mas são frágeis, passíveis de destruição frente a decisões exteriores a eles, decisões políticas arbitrárias baseadas em interesses e em luta de poder que escapam à lógica da preservação humana. O corpo político individual a primeira vista se apresenta como um construto maleável enquanto o corpo político coletivo ameaça toda e qualquer maleabilidade.

Podemos também pensar que os Body Builders transformam seus corpos em couraça, vestem-se de músculos, talvez como estratégia para esconderem seu interior do olhar alheio, como diz Jean-Jacques Courtine e representam a versão atual dos self made men dos Estados Unidos, como ironiza o autor, mas o poder deles se esgota em seus próprios corpos.

Em video realizado por alunos do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com entrevista a Alex Flemming, o artista assim se expressa:

A obra de arte sempre tem que ter conceito, cor e forma. Então o conceito é contra a guerra, a forma é a forma como eu tirei a foto, e a cor foi a cor que eu pus. Outra coisa que eu sempre faço é a pesquisa do material. Isso aqui é fotografia sobre plástico, em cima desse plástico ou pintei. Ou seja, eu quero as coisas muito diferentes, não quero uma coisa que já foi feita. Eu quero uma pintura e uma fotografia, mas quero que seja uma coisa completamente nova.

...

Isso aqui é os indianos contra os paquistaneses numa eventual guerra atômica, que é um problema. Então, eu peguei um mapa da Veja, que fala da rivalidade atômica entre os dois, pus como se fosse uma tatuagem numa bunda e pintei os átomos.

            BARBOSA (2001) assim se manifestou sobre a política nas obras de Flemming:

A obra de Alex sempre foi política, enfocando desde a política do corpo à "real politics" passando pela política de gênero, de identidade e de códigos culturais. Trata-se de um pensamento político que não pode ser confundido com o recente engajamento político de artistas que "tradicionalmente" aliados à vanguarda, agora, que vanguarda não é mais o valor hegemônico, tentam se localizar para além do modernismo, no pós-modernismo ou no ultra-modernismo através da produção de obras políticas que não são obras de arte pela literalidade da interpretação a que conduzem. Obra política para ser Arte e não mero comentário ou propaganda precisa ser polifônica, grávida de significados, levar a pensar e não apenas vender uma idéia predeterminada. Cometem-se assim vários enganos como, pensar que a via pós-moderna é necessariamente crítica política e o pior reduzir ao óbvio a crítica política.
            A série em que esta obra se insere tenta alertar sobre as guerras que estão acontecendo ou prestes a acontecer, colocando o mapa da zona de conflito sobre partes de corpo humano, como se tais mapas fossem tatuagens naqueles corpos. Mas a obra de arte embora tratando da guerra, não deixa de ser bela. Como o próprio artista declara “a obra de arte precisa ser bela.”
            A obra se insere naquelas que tentam cumprir uma função política, alertando sobre as mazelas que se abatem sobre a humanidade. Todavia a sua apresentação é esteticamente interessante utilizando materiais modernos e técnicas muito “práticas”.
Referências:
BARBOSA, Ana Mae. Alex Flemming: Antologia nos limites do corpo. Revista Arquitextos. Ano 2, ago 2001. Disponivel em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.015/858, acesso em 08/04/2012.

Site do artista: http://www.alexflemming.com, acesso em 06/04/2012

Video feito por alunos do Curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com entrevista do Alex Flemming, disponível em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bhZT_lnQ-i8, acesso em 06/04/2012.

Josefa Maria Coelho Marques é estudante do 6º semestre do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade Dulcina de Moraes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário