Figura
1 – Alex Flemming, Índia x Paquistão.
Fotomontagem/
Impressão digital. 1,55 x 2,03. 2001.
Esta obra apresenta uma fração de um
corpo, de costas, do torso superior até as coxas. Sobre onde se localiza a
bunda foi colocado o mapa que, segundo o artista, havia sido publicado na
Revista Veja, no qual se vê o potencial de armamento nuclear dos dois países.
Após a impressão feita sobre plástico, o artista interviu sobre a fotografia
pintando “átomos”. Em outra foto da mesma série e também sobre a India e o
Paquistão ao invés de colocar os átomos, escreveu textos.
O
corpo tem tonalidade azulada. O mapa sobreposto tem fundo em vermelho,
indicando as quantidades de bombas, foguetes, etc. O fundo do quadro é também
em vermelho. A representação dos átomos está em branco e verde.
A
parte esquerda do quadro e a inferior esquerda estão mais escuras que a parte
direita, especialmente o lado direito superior.
Alex
Flemming é brasileiro, nascido em São Paulo, em 1954. Estudou cinema na FAAP –
Fundação Armando Alvarez Penteado e atualmente mora em Berlim (Alemanha) e vem
cerca de três vezes por ano ao Brasil.
A
obra escolhida “Índia x Paquistão”
faz parte de uma série produzida pelo artista entre 2001/2002, chamada de “Body Builders”, na qual fotografou
corpos jovens e esbeltos para em seguida desenhar, sobre essas imagens, mapas
de áreas de conflitos e de guerras.
A fotografia, como meio ou propiciando acesso a outras mídias,
é usada por Flemming desde o início de sua carreira. O uso de caracteres
gráficos sobre fotografias de pessoas também está presente em um dos seus mais
destacados trabalhos: os painéis da Estação Sumaré do Metrô de São Paulo.
Compostos por fotos, como se fossem de documentos (3 x 4) de pessoas comuns, a
cada uma foi atribuído um poema, escrito em letras meio borradas, com trechos
invertidos ou ausentes, o que não impossibilita a sua compreensão.
Ana
Mae Barbosa (2001) foi curadora da exposição “Alex
Flemming: Corpo Coletivo”
realizada no CCBB – SP e sobre a série Body
Builders do artista, que foi o foco principal da exposição, disse:
A série se ampliou com mais 17 obras que foram
criadas e produzidas especialmente para essa exposição do CCBB-SP e que apontam
para contradições básicas do mundo contemporâneo. Uma delas é a quase ausência
de limites para a dominação do corpo pelos sujeitos individuais que os modelam,
os recortam, potencializam sua energia e os constróem, mas são frágeis,
passíveis de destruição frente a decisões exteriores a eles, decisões políticas
arbitrárias baseadas em interesses e em luta de poder que escapam à lógica da
preservação humana. O corpo político individual a primeira vista se apresenta
como um construto maleável enquanto o corpo político coletivo ameaça toda e
qualquer maleabilidade.
Podemos também pensar que os Body Builders transformam seus corpos em couraça, vestem-se de
músculos, talvez como estratégia para esconderem seu interior do olhar alheio,
como diz Jean-Jacques Courtine e representam a versão atual dos self made
men dos Estados Unidos, como ironiza o autor, mas o poder deles se esgota
em seus próprios corpos.
Em video realizado
por alunos do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, com entrevista a Alex Flemming, o artista assim se expressa:
A obra de arte sempre tem que
ter conceito, cor e forma. Então o conceito é contra a guerra, a forma é a
forma como eu tirei a foto, e a cor foi a cor que eu pus. Outra coisa que eu
sempre faço é a pesquisa do material. Isso aqui é fotografia sobre plástico, em
cima desse plástico ou pintei. Ou seja, eu quero as coisas muito diferentes,
não quero uma coisa que já foi feita. Eu quero uma pintura e uma fotografia,
mas quero que seja uma coisa completamente nova.
...
Isso aqui é os indianos contra os
paquistaneses numa eventual guerra atômica, que é um problema. Então, eu peguei
um mapa da Veja, que fala da rivalidade atômica entre os dois, pus como se
fosse uma tatuagem numa bunda e pintei os átomos.
BARBOSA (2001) assim se manifestou
sobre a política nas obras de Flemming:
A
obra de Alex sempre foi política, enfocando desde a política do corpo à "real
politics" passando pela política de gênero, de identidade e de códigos
culturais. Trata-se de um pensamento político que não pode ser confundido com o
recente engajamento político de artistas que "tradicionalmente"
aliados à vanguarda, agora, que vanguarda não é mais o valor hegemônico, tentam
se localizar para além do modernismo, no pós-modernismo ou no ultra-modernismo
através da produção de obras políticas que não são obras de arte pela
literalidade da interpretação a que conduzem. Obra política para ser Arte e não
mero comentário ou propaganda precisa ser polifônica, grávida de significados,
levar a pensar e não apenas vender uma idéia predeterminada. Cometem-se assim
vários enganos como, pensar que a via pós-moderna é necessariamente crítica
política e o pior reduzir ao óbvio a crítica política.
A série em que esta obra se insere tenta
alertar sobre as guerras que estão acontecendo ou prestes a acontecer, colocando
o mapa da zona de conflito sobre partes de corpo humano, como se tais mapas
fossem tatuagens naqueles corpos. Mas a obra de arte embora tratando da guerra,
não deixa de ser bela. Como o próprio artista declara “a obra de arte precisa
ser bela.”
A obra se insere naquelas que tentam
cumprir uma função política, alertando sobre as mazelas que se abatem sobre a
humanidade. Todavia a sua apresentação é esteticamente interessante utilizando
materiais modernos e técnicas muito “práticas”.
Referências:
BARBOSA,
Ana Mae. Alex Flemming: Antologia nos limites do corpo. Revista Arquitextos.
Ano 2, ago 2001. Disponivel em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.015/858,
acesso em 08/04/2012.
Site
do artista: http://www.alexflemming.com, acesso em 06/04/2012
Video
feito por alunos do Curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, com entrevista do Alex Flemming, disponível em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bhZT_lnQ-i8,
acesso em 06/04/2012.
Josefa Maria Coelho Marques é estudante do 6º semestre do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade Dulcina de Moraes.
Josefa Maria Coelho Marques é estudante do 6º semestre do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade Dulcina de Moraes.
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