domingo, 19 de maio de 2013

Parangolé por Tereza Riba


PARANGOLÉ: ANÁLISE A PARTIR DA PERSPECTIVA DAS POÉTICAS DE OBRA ABERTA DE UMBERTO ECO.

Nildo da Mangueira com Parangolé, 1964.

            Define-se a poética Obra Aberta como uma categoria não crítica e sim de valor hipotético. Seu discurso se apoia no universo de relações da qual a obra de arte se origina, sua leitura é interdisciplinar.
O autor apresenta uma proposição onde, a lógica formal e a lógica dialética se relacionam com intenção de formar um discurso que elucide o  momento histórico que está se vivendo. Trata-se de um modo diferenciado de se “ver” a obra de arte e se relacionar com esta, a partir de uma nova organização, que rompe com a ordem tradicional imposta até então.
 Para Humberto Eco, uma obra de arte é formada a partir de uma  estrutura, formas interdisciplinares que dialogam entre si. O objeto/obra,  é fruto da mistura das diferentes vivências, emoções, ideias, memórias, temas, materiais, leituras, etc, surge como obra no momento em que é colocado à uma relação de fruição com o espectador.
Eco identifica na poética da obra aberta, a não necessidade de se ater a um ou outro discurso especificamente, o campo é aberto a colocações e interpretações de toda a ordem, busca-se no valor da informação uma riqueza de significados ilimitada, o que faz possível uma maior e mais abrangente leitura e compreensão da obra de arte. A obra para esse autor é considerada como uma metáfora epistemológica.
A obra que se pretende analisar a partir da poética referida, são os  Parangolés  do artista brasileiro Hélio Oiticica, criada no final da década de 50.
O parangolé é uma escultura/vestimenta, feita para ser dotada de movimento. Confeccionada de tecidos de diferentes cores, é possível vesti-la e ser tomado por um estranhamento devido a  suas formas não convencionais. Provocador, permite a descoberta de  novas posturas e o repensar de um novo gestual, livre dos padrões estabelecidos pela sociedade, uma nova ordem de atitudes.
No final da década de 50 e início dos anos 60, artistas no mundo pensam novas linguagens e formas de representação. Atitudes diferentes inovam a forma de pintar, de esculpir e do espectador observar a obra. Surgem performances, vídeo arte, e outras maneiras de expressão da arte. A poética do informal se instaura, para trazer ao artista e fruidor a forma na obra de arte como um novo campo de possibilidades.
Helio Oiticica assim como muitos artistas brasileiros da década de 60, dialogam com a diferença. Uma de suas grandes contribuições foi ter pensado a pintura fora do espaço bidimensional da tela, e tê-la levado para um espaço construído, o espaço tridimensional.  Além de realizar as experiências, Helio escreve ensaios sobre as mesmas.
Com o parangolé, dá-se uma nova vivência estética, onde a simultaneidade de gestos e movimentos propostas pelo ator/espectador promove uma infinidade de perspectivas e maneiras de ver e fruir tal acontecimento artístico, esse, resulta ambíguo e visível sob diversos olhares, e segundo as palavras de Umberto Eco, “o campo das escolhas não é mais sugerido, é real, e a obra é um campo de possibilidades”.  (Eco, 2010, p. 153)
Unir corpos e movimentos parece ter sido a maneira que Oiticica  encontrou de falar de cores e formas. Em vários de seus trabalhos, explora a diversidade de forma interdisciplinar. Com os parangolés mais especificamente, busca uma nova configuração para as cores, por meio de movimento e gestual. Nesse trabalho, fronteiras entre as diversas linguagens artísticas se misturam, em uma só.  O público, agora é obra e interage ativamente. Com essa experiência, nota-se em Hélio a tentativa de aproximação entre arte e vida, erudito e popular. O trabalho não se fecha à significações estáticas.
Hélio Oiticica (Oiticica, H., 1986) com seus conhecidos parangolés, sobe muitas vezes o morro da Mangueira para compor com corpos, desconfortáveis, “estruturas-cor no espaço e no tempo” (Oiticica, H., op. cit., p.51). Sua certeza era a de que, [...] “A pintura teria que sair para o espaço” (Oiticica, H., op. cit., p.27).  
Sensibilizar os sentidos por meio da experimentação, trabalhar novos suportes, experimentar uma relação com o tempo e a espacialidade, integrar a arte às experiências cotidianas de diferentes universos, é uma prática que Hélio traz como contribuição para se pensar a arte, suas novas abordagens, e novas formas de experimentação estética.
O artista leva a arte para a rua, desmitificando-a, tornando-a livre de hierarquias, e é no espaço público e não dentro do museu que sua experiência se torna viva. Trata-se de  obra aberta, é teatro, música, ópera, circo, dança, performance, artes visuais, diferentes expressões artísticas. É efêmero como o tempo, nada em sua obra é estático. Segundo Umberto Eco é o processo que preside a formação da  obra.
Hélio busca novas experimentações e uma pesquisa de linguagem plástica revendo conceitos pré-estabelecidos nas tradicionais convenções artísticas. Nega as definições estáticas e engessadas do acabado, definido. O parangolé não pertence a nenhuma das categorias tradicionais das Belas Artes. Segundo a poética em questão, Obra aberta, o parangolé, é da ordem do informal, é uma nova categoria, aberto a novas percepções de campo dilatado e experiências infinitas.

Bibliografia
ECO, Umberto,  Obra Aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas/ Umberto Eco – São Paulo; Perspectiva, 2010.
Escritos de artistas: anos 60/70/ seleção e comentáriosGlória Ferreira e Cecília Cotrim – Rio de Janeiro; Zahar, 2006.
Oiticica, H. Aspiro ao Grande Labirinto. Rocco, Rio de Janeiro, 1986. http://www2.uol.com.br/antoniocicero/parangole.html

Tereza Riba é estudante de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes.

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